A Coréia do Norte desligou
seu principal reator nuclear, Yongbyon, de acordo com o diretor da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed El Baradei. A medida é parte de
um acordo feito no dia 13 de fevereiro de 2007, em que a Coréia do Norte
promete desligar e desativar Yongbyon em troca do fornecimento de combustível e
outros tipos de ajuda.
A Coréia do Norte já
recebeu um carregamento de combustível da Coréia do Sul como parte do acordo. Embora
o desligamento do reator seja, de fato, um importante passo adiante,
especialistas advertem que ainda há um longo caminho pela frente. Entenda,
abaixo, por que o programa nuclear da Coréia do Norte causa tanta preocupação
para a comunidade internacional.
O que foi acertado em
fevereiro?
A Coréia do Norte disse
que desligaria o reator de Yongbyon em 60 dias. Em troca recebeu a promessa da
entrega de 50 mil toneladas de combustível fornecido por cinco outros países envolvidos
nas negociações nucleares --Estados Unidos, China, Coréia do Sul, Japão e
Rússia.
A Coréia do Norte deveria
declarar todas as suas instalações nucleares e desativá-las para receber então
mais 950 toneladas de combustível. A Coréia do Norte também concordou em
convidar a AIEA a retornar ao país para monitorar o acordo e disse que
começaria as conversações para normalizar suas relações diplomáticas com
Estados Unidos e Japão.
Qual é a importância do
reator desligado?
Tem grande valor simbólico
--é uma indicação clara de que a Coréia do Norte leva a sério o acordo. Mas
desligar o reator é um processo relativamente simples. Ele pode ser ligado
novamente. O teste mais duro virá depois, quando a Coréia do Norte tiver que
desativar permanentemente o reator.
E para complicar ainda
mais a situação, algumas das questões mais difíceis ainda não foram levantadas
--tais como se a Coréia do Norte tem um programa secreto de enriquecimento do
urânio, ou o que acontece com qualquer arma nuclear que a Coréia do Norte já
tenha. Analistas mais céticos afirmam que o acordo de fevereiro é semelhante a
um de 1994.
Aquela negociação
fracassou depois que os Estados Unidos acusaram a Coréia do Norte de manter um
suposto programa de enriquecimento de urânio, e a Coréia do Norte acusou os
Estados Unidos de renegarem um acordo para o fornecimento de dois reatores
nucleares. Embora existam sinais de uma reaproximação entre os Estados Unidos e
a Coréia do Norte, ainda há suspeitas dos dois lados e um grande potencial para
problemas e atrasos.
O processo vem correndo
normalmente até agora?
Não. Já há um grande
atraso em seu andamento por causa de divergências sobre questões bancárias. Durante
meses a Coréia do Norte se recusou a cooperar até que tivesse acesso a recursos
da ordem de US$ 25 milhões que tinham sido congelados em uma conta em um banco
de Macau.
Os recursos foram
congelados depois que os Estados Unidos alegaram que eles estavam ligados a
lavagem de dinheiro e falsificação. Embora os Estados Unidos tenham suspendido
o bloqueio do dinheiro depois do acordo de fevereiro, a transferência do
dinheiro demorou porque vários bancos internacionais tinham receio de receber o
dinheiro.
Em junho, o Dalkombank, no
leste da Rússia, concordou em atuar na transferência de dinheiro de Macau para
Pyongyang. A transferência completa dos fundos foi confirmada no dia 25 de
junho, permitindo que o processo de inspeções e envio de combustível fosse
iniciado.
Por que a questão da
capacidade nuclear da Coréia do Norte é tão importante?
As ambições nucleares da
Coréia do Norte têm o potencial de se tornarem a mais grave ameaça no curto e
longo prazos à segurança do Leste da Ásia. As duas Coréias ainda continuam,
tecnicamente, em guerra, já que não foi assinado nenhum acordo de paz depois da
Guerra da Coréia, de
As relações entre a Coréia
do Norte e a Coréia do Sul melhoraram muito desde 2000, mas sua fronteira ainda
é uma das mais militarizadas do mundo, com milhares de armas apontadas para a
capital da Coréia do Sul.
O que é sabido sobre o
programa de armas nucleares da Coréia do Norte?
Depois de dezembro de
2002, quando a Coréia do Norte reativou o seu reator de Yongbyon e forçou dois
monitores nucleares da ONU a deixarem o país, a Coréia do Norte disse estar
trabalhando para construir seu arsenal de armas nucleares.
O problema para o resto do
mundo é que é muito difícil verificar a veracidade dessas afirmações. Se o
reator de Yongbyon se tornar totalmente operacional, alguns analistas acreditam
que pode produzir plutônio suficiente para a construção de aproximadamente uma
arma por ano.
A agência de inteligência
americana, CIA, disse que um programa separado de urânio enriquecido poderia
estar produzindo "duas ou mais" bombas anualmente, até o meio da
década, embora a Coréia do Norte tenha sempre negado publicamente a existência
do programa.
Especialistas acreditam
que a Coréia do Norte possa ter obtido plutônio suficiente para um pequeno
número de bombas. As autoridades americanas acreditam que esse número seja
"um ou dois". Os Estados Unidos acreditam que cerca de 8.000 bastões
de combustível nuclear armazenados em 1994 poderiam ser utilizados para a
produção de plutônio apropriado para armamento. Outras estimativas indicam que
a Coréia do Norte pode ter agora oito ou mais bombas.
A Coréia do Norte pode
lançar uma bomba nuclear?
Embora a Coréia do Norte
tenha testado uma bomba nuclear, analistas de segurança não acreditam que ela
tenha conseguido construir um artefato pequeno o suficiente para ser lançado em
um míssil. Isto significa que, pelo menos por enquanto sua única forma de
lançar uma bomba seria por avião, o que os Estados Unidos e seus aliados poderiam
monitorar. Mas a Coréia do Norte também está trabalhando com mísseis de longo
alcance, um dos quais, acredita-se, poderia alcançar milhares de quilômetros.
(BBC, 16/07/2007)