Geane Cosme dos Santos, 20 anos, quilombola de Linharinho, em Conceição da Barra, está representando os negros descendentes de escravos do Brasil no Reino Unido. Participa da marcha de Christian Aid contra as mudanças climáticas e deve levar aos europeus, entre outras, informações sobre os danos que a Aracruz Celulose provoca ao meio ambiente, aos negros e aos indígenas.
A marcha de Christian Aid comecou este fim de semana. Participam delegados de todos os continentes, e Geane e a pernambucana Cássia, do MST, são as duas representantes dos brasileiros. Os manifestantes caminharão mais de 1500 quilômetros, desde da Irlanda a Londres.
Christian Aid é instituição parceira da Rede Alerta Contra o Deserto Verde na Europa. Esta organizando a marcha exigindo ações que contenham a emissão dos gases do efeito de estufa, que produzem as mudanças climáticas.
A escolha de Geane Cosme dos Santos pela Christian Aid para representar o Brasil na marcha, mostra o apoio internacional à luta dos quilombolas, dos índios e os pequenos agricultores capixabas atingidos pela Aracruz Celulose.
À quilombola caberá atender a imprensa internacional, apontando as mazelas da ocupação da Aracruz Celulose. Ocupação que começou há 40 anos, com apoio e favores da ditadura militar. Neste processo, a empresa tomou e explora aproximadamente 50 mil hectares de terras dos quilombolas e cerca de 40 mil hectares dos índios capixabas. Ocupou também grandes extensões de terras dos pequenos agricultores, expulsos para as periferias das cidades.
Nos plantios de eucalipto, a Aracruz Celulose destruiu a água usado pelos quilombolas. A pouca água restante está contaminada como venenos agrícolas. Também a empresa destruiu a biodiversidade em toda a área que ocupou. Hoje, os descendentes dos escravos negros catam gravetos de eucalipto para sobreviver e, mesmo assim, são atacados pela milícia da Aracruz Celulose e policiais civis e militares a seu serviço.
A história da destruição provocada pela Aracruz Celulose Geane Cosme dos Santos sabe de cor. Ela nasceu, vive e estuda na comunidade de Linharinho. Linharinho é um dos territórios que pesquisas cientificas realizadas por especialistas contratados pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) confirmaram que é território quilombola. E que por força da lei tem de ser devolvida aos negros.
A Aracruz Celulose S.A. ocupa a maior parte do território quilombola de Linharinho e a empresa e os outros ocupantes já foram citados no edital publicado pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), no Diário Oficial da União. O edital dá ciência das conclusões das pesquisas da Ufes que concluem que a área é dos descendentes dos escravos negros.
Só em Linharinho os quilombolas têm 9.542,57 hectares de terras que terão que ser devolvidos à comunidade negra.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 17/07/2007)