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etanol biodiesel
2007-07-17
Com o "boom" do álcool no mundo, o setor sucroalcooleiro do Brasil recebe novos investimentos, que contarão com forte financiamento estatal. Serão aplicados US$ 19 bilhões até 2012 em pelo menos 86 novas usinas e ampliações, e os empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) somarão até R$ 10 bilhões no período.

De 2002 a 2005, o setor investiu menos de um terço do valor previsto para os próximos anos -US$ 6,2 bilhões. Se saírem do papel, os projetos vão gerar 400 mil empregos e aumentar em 114% a produção de álcool até 2012, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

Essas cifras serão alcançadas somente pela expansão do mercado interno, com o uso crescente do carro flex -que já representa 83,6% das vendas de novos e 12% da frota. "Independentemente de qualquer cenário, esses investimentos vão acontecer. O mercado brasileiro é bastante demandante", disse Carlos Gastaldoni, assessor da presidência do BNDES para o tema.

Os investimentos podem ser maiores se caírem as barreiras comerciais ao álcool brasileiro nos EUA e se aquele país levar adiante a proposta de adicionar à gasolina 20% do produto em 2017, prevê Gastaldoni.

Ele estima a necessidade de 700 usinas e uma exportação de 70 bilhões de litros de álcool só para atender essa eventual demanda norte-americana. O cálculo considera que o Brasil abocanharia metade do mercado criado com a adição de apenas 10% nos EUA, percentual que não demanda adaptações em motores e postos.

"Serão US$ 200 bilhões em investimento. É algo colossal, mas não há motivo para não acontecer. O Brasil produz o etanol mais barato e mais competitivo do mundo", diz.

O BNDES analisa 70 pedidos de empréstimos, no valor de R$ 10 bilhões. Algumas operações já foram aprovadas. O banco estuda ainda tornar-se sócio de alguns empreendimentos, segundo Gastaldoni.

Segundo a Unica, além dos 86 projetos de usinas em fase de desenvolvimento (seja na de plantio ou na de construção), existem mais 61 com potencial de serem implantadas. O BNDES identificou 51 empreendimentos em andamento -todos no centro-sul e parte deles destinados à exportação.

Alfred Szwarc, consultor da Unica, afirma que "as questões ambientais são determinantes" para a expansão futura do consumo de etanol no mundo. Elas já fazem a União Européia estudar a adoção de lei que determina a substituição de 10% dos combustíveis fósseis por biocombustíveis, diz.

Tal cenário, segundo Szwarc, abre "ótimas perspectivas" de exportação. É preciso, porém, "calibrar bem o aumento de produção e os investimentos", diz, já que a expansão do mercado externo depende de "decisões políticas". Cita o fim dos subsídios e da tarifa de importação nos EUA e do protecionismo na UE.

Outro entrave às exportações -"típico de um mercado que está nascendo", afirma Szwarc- é que o álcool ainda não é uma commodity, com uniformidade de preço e diversos produtores. "Não há um mercado global."

Gastaldoni, do BNDES, afirma que "existe um número mágico no setor": US$ 40 o barril, piso para o preço do petróleo. Abaixo disso, o álcool deixa de ser competitivo. Hoje, com o óleo na faixa de US$ 70, todos os projetos e perspectivas de exportação são viáveis, segundo ele. "Só não houve uma explosão por causa das barreiras."

Críticas
Gervásio Castro de Rezende, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, critica a pretensão do BNDES de financiar o setor, pois os preços do açúcar e álcool são "muito instáveis", o que eleva o risco dos empréstimos.

Diz ainda que existem muitas incertezas sobre um possível mercado internacional de álcool. "Se o petróleo cair, acaba com toda essa farra."

Cita também o risco dos constantes refinanciamentos de empréstimos do setor público à agropecuária. O BNDES, por sua vez, disse que é "fundamental o financiamento do banco para viabilizar os investimentos" em razão da quantidade de capital necessária.
(Por Pedro Soares, Folha de S. Paulo, 17/07/2007)


 
 

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