Após seis dias de encontro na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belém (PA), o setor de ciência e tecnologia (C&T) do Estado do Amazonas sai fortalecido do evento.
A opinião é do coordenador do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), Antonio Ocimar Manzi. A afirmativa do cientista, que é vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), foi destaque já em palestra coletiva da última quinta-feira, na capital paraense, em que participaram pesquisadores como Antônio Marengo Orsini e Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Essa opinião, em si, representou um eco global dos cientistas que estiveram na SBPC acerca do que o governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), e a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), haviam afirmado quando enfatizaram parceria interestadual no setor de C&T, no início da reunião de Belém. “É um marco na história do Estado”, disse Braga, destacando aquilo que Carepa costuma sinalizar: “o Pará possui peculiaridades históricas diferentes em relação ao Amazonas e isso precisa ser balanceado”. Outra ênfase da SBPC foi sobre o programa bolsa-floresta, que irá fechar o mês de julho com R$ 20 milhões em caixa. O valor é referente ao pagamento de metade das 8 mil famílias que podem ser cadastradas na atividade.
Além disso, o encontro fortaleceu uma proposta já divulgada pela Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Sect) do Amazonas, coordenada por José Aldemir. “Vamos buscar orçamentos também fora do Estado, junto aos órgãos de fomento federais”, explicou ele, que é doutor em geografia humana (USP). “A Amazônia é vida, vida em toda a dimensão, portanto é necessário estarmos atentos à discussão da cultura na Amazônia”, avaliou, ressaltando a pluralidade de temas a serem observados pelos gestores públicos de C&T da Região Norte.
Apenas uma questão, entretanto, não ficou explicada entre as avaliações de trabalhos conjuntos entre Pará e Amazonas na SBPC. Trata-se da construção de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, e de outras 75 usinas hidrelétricas que o governo federal pretende erigir na Amazônia até 2050. A princípio, nenhum acerto foi feito ao fim da 59ª Reunião Anual para o desenvolvimento de estudos sobre o caso, por cientistas do Museu Emílio Goeldi e do Inpa, além do Instituto Mamirauá — três importantes instituições científicas do Norte, sem falar da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Universidade Federal do Pará (UFPA).
Apenas integrantes e ex-integrantes dos programas de pesquisa do LBA, como o cientista Alexandre Kamenes, chegaram a sugerir proposta dessa natureza, bem como o ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ennio Candotti, o qual afirmou que o crescimento da região amazônica depende da criação de um novo “pacto verde” (este firmado por meio da Carta de Belém) para a região. Ele fez a afirmativa tendo como base ações que a SBPC realizou no encontro recém-terminado no Pará, na busca pela implementação de políticas de ciência e tecnologia.
Além disso, enfatizou Candotti, “não é de hoje que a SBPC se mobiliza em torno das questões que envolvem a Amazônia”. O ex-presidente da entidade defendeu a atração de recursos que ampliem a presença de empresas e instituições de pesquisa consolidadas e, sobretudo, comprometidas com o desenvolvimento sustentável, tendo em vista a fixação de doutores no espaço geográfico amazônico.
(Por Renan Albuquerque,
Amazonas Em Tempo, 16/07/2007)