A política dos Estados Unidos para a Coréia do Norte fracassou, apesar do fechamento do reator nuclear de Yongbyon, disse na segunda-feira (16/07) um ex-negociador norte-americano e autor de um novo livro que critica a diplomacia de Washington. Charles Pritchard, um dos mentores da política para a Coréia do Norte durante o governo Clinton e nos primeiros dois anos da presidência de George W. Bush, disse que a desativação do reator, neste mês, foi "um bom passo".
"(Mas é) apenas um pequeno passo que reverte só uma pequena parte do que ocorreu nos últimos cinco anos", disse Pritchard em entrevista, referindo-se a um período no qual Pyongyang passou de um ou dois reatores nucleares para talvez até dez armas atômicas. O ex-diplomata, agora presidente do Instituto Econômico da Coréia, disse que seu novo livro, "Diplomacia Fracassada", mostra "como a diplomacia nos últimos cinco anos falhou em manter os EUA seguros do desenvolvimento de material nuclear em armas nucleares e do potencial de proliferação para fora da Coréia do Norte".
Pritchard se demitiu em 2003 do cargo de enviado dos EUA para negociações com a Coréia do Norte, depois de ser marginalizado por funcionários do governo Bush que o consideravam um resquício do governo Clinton e viam com desconfiança seu apoio a negociações diretas com Pyongyang --algo que Bush antes abominava, mas que recentemente passou a aceitar. Na época da demissão, Pritchard era um dos poucos funcionários dos EUA com experiência em lidar com o regime norte-coreano.
Inspetores da ONU confirmaram no fim de semana que a Coréia do Norte fechou o reator de Yongbyon, que remontava à era soviética e que gera plutônio para armas nucleares do país. A desativação, segundo a ONU, foi mais ou menos concomitante à chegada da primeira carga de 6.200 toneladas de combustível pesado de Seul, como previsto em um acordo multilateral de 13 de fevereiro, que prevê ajuda à Coréia do Norte em troca do desarmamento.
Embora tenha sido o passo mais importante para conter Pyongyang em vários anos, o fechamento de Yongbyon basicamente apenas retoma o congelamento que vigorou de 1994 a 2002. Ao suspender as operações em Yongbyon, a Coréia do Norte demonstra disposição em "vender" o fim do seu programa nuclear, mas, segundo Pitchard, provavelmente só depois do fim do mandato de Bush é que se saberá se os norte-coreanos estão dispostos a abrir mão de suas bombas atômicas.
Ele afirmou que Pyongyang fechou seu reator agora porque conseguiu uma "dissuasão estratégica" --armas nucleares suficientes para evitar um ataque dos EUA-- e porque suas instalações estão começando a se deteriorar. Pritchard disse à Reuters que Bush, conhecido por sua antipatia visceral em relação ao líder norte-coreano, Kim Jong-il, cometeu dois grandes erros em sua abordagem à Coréia do Norte.
O primeiro foi permitir uma diplomacia de via dupla, pela qual os radicais do governo que preferiam uma mudança de regime trabalharam ativamente para sabotar os esforços que poderiam atrair o país para uma negociação diplomática da questão nuclear. O segundo, de acordo com o diplomata, seria não resolver suficientemente as diferenças dos EUA com a Coréia do Sul, um aliado importante e que estava mais aberto à abordagem diplomática.
(Por Carol Giacomo, Reuters /
Estadão, 16/07/2007)