Oque pensar sobre os primeiros quilômetros de um rio que, de tão poluído, perdeu as condições de garantir a vida dos seres que o habitam? Uma expedição ao local onde nasce o Rio dos Sinos serviu, na quinta-feira passada, para erradicar as previsões e opiniões que adiantam um futuro sombrio para o rio. O cenário, no município de Caraá (RS), provoca sentimentos distintos: esperança e urgência.
O Rio dos Sinos ainda não está morto, mas há trabalho a ser feito. A expedição foi uma iniciativa do curso de mestrado em Qualidade Ambiental da Feevale. Um professor e dois mestrandos, interessados em identificar pontos de coleta de água para posterior análise no Rio dos Sinos, convidaram a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semmam) de São Leopoldo e o Consórcio Intermunicipal de Saneamento para participar da aventura.
No ponto mais próximo da nascente onde ainda era possível chegar de carro, o grupo, desfalcado dos representantes do consórcio, decidiu encarar a trilha, de cerca de dois quilômetros pela mata, que leva ao local onde o Sinos nasce. Cerca de uma hora de caminhada e uma aventura nada fácil: a trilha envolve subidas e descidas íngremes, trechos em mata fechada e inevitáveis passagens por dentro da água gelada. A chuva constante que vem atingindo a região nas últimas semanas tornou o percurso ainda mais complicado. A recompensa é uma cachoeira de cerca de 15 metros de altura, identificada por muitos como o ponto onde o Rio dos Sinos nasce.
O local é definido pelo agricultor Paulinho Milcharji como “o paraíso.” Morador da localidade de Quebrada, em Caraá, sua propriedade fica exatamente no início da trilha. A imagem da cachoeira é um convite à contemplação. “Isso aqui é um santuário”, afirma o professor de química do curso de mestrado, Marco Antônio Siqueira Rodrigues. “É impossível que alguém olhe isso e não pense antes de atirar lixo no chão” O coordenador de Fiscalização Ambiental da Semmam, Joel Garcia Dias foi mais sucinto: “Valeu a caminhada”.
Quem já foi até a nascente do Sinos sabe que a sensação é única. O ambientalista Odi Silva enfrentou a trilha em janeiro. “Voltei encantado com o que eu vi. Eu não imaginava que as nascentes estavam neste grau de preservação.” O encantamento levou Silva a produzir um documentário e prometer voltar ao local no próximo verão.
Futuro: águas limpas dão alento aos pesquisadoresA missão era identificar pontos O objetivo da expedição à nascente do Sinos foi identificar o estado da trilha que leva até lá. Tanto a Feevale quanto o consórcio de saneamento e a Semmam têm interesse em ampliar a análise da água promovendo a coleta em mais pontos do rio. A idéia é comparar dados da parte mais próxima da nascente com os da porção que passa pelos municípios maiores. Agora, o grupo que participou da expedição à nascente já tem planos para uma nova aventura. Uma navegação pelo Sinos, desde o encontro das águas do Rio Paranhana com o Rio dos Sinos, em Taquara, até a foz do Rio Jacuí, em Canoas já está sendo preparada. A intenção é dar prosseguimento ao trabalho identificando, desta vez, pontos de degradação da mata ciliar e despejo de efluentes. O grupo deve ainda coletar água em diferentes trechos do rio e mapear atividades de mineração. Os dados serão utilizados no futuro para basear ações de fiscalização e recuperação do rio. Além disso, trarão informações preciosas para os mestrandos em Qualidade Ambiental da Feevale. A navegaçãoera para ter sido realizada há cerca de duas semanas. O tempo ruim e a conseqüente cheia do Rio dos Sinos vêm atrapalhando os planos do grupo desde então.
Dados coletados ajudarão pesquisasDentre os trabalhos que foram beneficiados pela expedição à nascente está o da mestranda em Qualidade Ambiental Madalena Cristina Streb Scalon. A pesquisadora promove o estudo de danos ao DNA de seres vivos da região por conta da poluição da água do Sinos. O consórcio intermunicipal de saneamento também já contabiliza benefícios. O assessor técnico do Pró-sinos, Arnaldo Dutra, identificou vários problemas nos trechos visitados antes do início da trilha para a nascente. Dentre eles, a presença de cemitérios e locais de criação de porcos e gado às margens de arroios e do próprio Sinos. Pequenas contribuições que, somadas, tornam grave o problema, segundo Dutra, que adianta ainda que os dados serão utilizados nas ações de recuperação da bacia.
(
VS, 16/07/2007)