O aquecimento global pode provocar o aparecimento de furacões, ou ciclones tropicais, no mar Mediterrâneo, ameaçando um das regiões costeiras mais densamente povoadas do mundo, afirmaram cientistas europeus. Atualmente, os furacões costumam se formar no oceano Atlântico e raramente atingem a Europa, mas um novo estudo mostra que um aumento de 3 graus Celsius nas temperaturas médias pode fazer com que ocorram dentro do Mediterrâneo.
"Este é o primeiro estudo a detectar essa possibilidade", disse à Reuters, na segunda-feira, Miguel Angel Gaertner, da Universidade de Castilla-La Mancha em Toledo, Espanha. Gaertner foi o coordenador da pesquisa. "A maior parte dos modelos usados em nosso estudo mostram uma intensificação das tempestades. Se combinarmos isso com o aumento do nível dos oceanos, conforme se prevê que ocorrerá, o resultado seria perigoso para muitas áreas costeiras habitadas."
Além de abrigar milhões de pessoas, a costa do Mediterrâneo também serve de importante centro turístico, que então estaria sob ameaça. Entre os fatores que influenciam os furacões estão o aquecimento da superfície dos mares e a instabilidade atmosférica. Até agora, esses fenômenos ocorreram em um número limitado de regiões, tais como o norte do Atlântico e do Pacífico, onde são chamados de tufões. Recentemente, no entanto, passaram a aparecer em lugares inusitados, o que, segundo Gaertner, seria um sinal claro do perigo à vista.
Em 2004, o furacão Catarina apareceu no sul do Atlântico e atingiu o sul do Brasil. Um ano mais tarde, o furacão Vilma formou-se perto da ilha da Madeira e transformou-se no primeiro a invadir território espanhol. Em um estudo publicado na American Geophysical Union Journal, Gaertner e seus colegas do Instituto Max Planck para Meteorologia, em Hamburgo (Alemanha), usaram vários modelos de previsão climática para determinar a possibilidade de eventos do tipo ocorrerem no Mediterrâneo.
Segundo Gaertner, um grande número de incertezas ainda paira sobre essa questão e continua sendo impossível determinar quais regiões do Mediterrâneo estariam mais expostas. O cientista também afirmou acreditar que ainda há tempo para evitar o pior dos cenários, e isso por meio da adoção de medidas contra o aquecimento global. "Esse é o lado positivo da coisa. Acho que temos tempo para evitar isso se diminuirmos as emissões de gases do efeito estufa", afirmou Gaertner. A maior parte dos especialistas diz que as emissões de gases do efeito estufa, decorrente em sua maior parte da queima de combustíveis fósseis em termelétricas, fábricas e carros, são a causa principal do aumento das temperaturas.
(Por Ben Hirschler,
Reuters, 16/07/2007)