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crise energética
2007-07-16

A falta de investimentos na exploração de novos recursos, na criação de novas usinas e na ampliação dos sistemas de transmissão, gerada principalmente pela política do governo de não reajustar os contratos com as empresas concessionárias e criar um ambiente hostil a investimentos de longo prazo, é mais determinante para a crise energética argentina que o inverno rigoroso, apontam analistas do setor.

Já em 23 de outubro de 2006, o Instituto Argentino de Energia, organização não-governamental centrada em estudos do setor, divulgou estudo de 15 páginas intitulado "O Instituto Argentino de Energia diante da inegável crise energética".

Nele, dizia: "Nos primeiros meses de 2004, o desajuste entre oferta e demanda começou a ser evidente. Originou-se e agravou-se como conseqüência de efeito combinado de crescente demanda impulsionada pelo crescimento econômico e uma insuficiente oferta de gás natural para fazer frente aos requerimentos da demanda".

Entre os motivos para a pouca oferta, o informe sinaliza como principal "os preços e tarifas com significativa defasagem em respeito a seus custos econômicos e em relação aos preços vigentes no Mercosul para produtos similares".
O analista Francisco Medrazzi coincide com o diagnóstico do IAE e culpa os governos de Eduardo Duhalde (2002-2003) e Néstor Kirchner.

"Em 2002, violaram-se os contratos de concessão. Os preços do gás e da eletricidade foram congelados e não se respeitaram as regulações. Ali tudo começou. No governo Kirchner, não corrigiram o erro, mas o mantiveram e pioraram."

Com a pesificação dos contratos, ao mesmo tempo em que as dívidas tomadas para investir se mantiveram em dólares, as empresas ficaram sem capacidade de investimento.

"O que o governo fez foi alterar o regime econômico da energia de um Estado regulador e um setor privado que investia para um Estado interventor e empresas sem capacidade de investimento."

Cecilia Laclau, da Fundação para o Desenvolvimento da Energia Elétrica, diz que o frio teve sua dose de influência na crise, mas ressalva: "As coisas não acontecem de um dia para o outro. Já há alguns anos que vêm postergando os reajustes para o setor elétrico, o que debilitou o mercado".

O especialista Antonio Rossi acrescenta dados concretos à discussão. "Para atender ao aumento da demanda, é necessário incorporar por ano 1.000 MW de geração adicional. A última termelétrica nova de grande porte, de 800 MW, entrou em serviço em 2000. Desde então, o consumo de energia subiu mais de 30% sem a ampliação do parque gerador, afirma Rossi.

Como resultado, explica Rossi, "o sistema está funcionando ao limite de sua capacidade técnica e sem reserva de proteção que permita atender qualquer evento inesperado", como o inverno mais rigoroso dos últimos anos. Nos primeiros dez dias do mês, a média de temperatura em Buenos Aires foi de 8,5C, a mais fria em 45 anos.

Os baixos investimentos também ficam claros ao comparar a abertura de poços novos de gás e petróleo. Em 1995, as petroleiras abriram 195 poços de petróleo. Dez anos depois, só 165. Em relação ao gás, entre 1990 e 1997, houve uma média de 160 novos poços por ano; em 2004 e 2005, só 25.

O resultado da falta de investimento em novos poços é uma queda da reserva em ambos os casos (leia texto nesta página).

Soluções
Os analistas coincidem em afirmar que a situação energética já está comprometida para o curto prazo e prevêem dificuldades para resolvê-la.

"Poderá haver situações mais amenas quando a temperatura for mais moderada. Mas, em definitivo, nada do que se está fazendo reverte o fato de que há um déficit no parque de geração", diz Medrazzi.

Rossi aponta dificuldades para suprir o déficit elétrico. "É diferente do setor petroleiro, que pode cobrir seu déficit com importações. O sistema elétrico depende de linhas de interconexão, e a única existente com o Brasil só permite transportar cerca de 1.000 MW."

A longo prazo, os especialistas apontam a necessidade de diversificar a matriz energética, tornando-a menos dependente do gás e petróleo. Antes disso, apontam para a necessidade de um plano de racionamento que abranja também os usuários residenciais.
(Por Rodrigo Rotzch, Folha de S. Paulo, 16/07/2007)


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