A Comissão Pastoral da Terra realizou, de 6 a 8 de julho, a 30ª Romaria da Terra e das Águas, do Estado da Bahia, em Bom Jesus da Lapa. Sob o lema "Terra e Água para que todos tenham vida", no final do encontro, os romeiros endereçaram ao presidente Lula e aos responsáveis pelos demais poderes da República uma carta chamando a atenção para o sofrimento das populações que vivem próximas ao Rio São Francisco. Eles reivindicam dos três poderes um posicionamento com relação à proposta de Transposição das Águas do São Francisco. Estiveram reunidos na celebração mais de oito mil pessoas entre trabalhadores e trabalhadoras rurais, quilombolas, vazanteiros, geraiseiros, caatingueiros, indígenas, pescadores, moradores de fundo de pasto, ribeirinhos, assentados, acampados, atingidos por barragens.
Segundo os participantes da romaria, o modelo econômico desenvolvido pelo governo tem gerado problemas como concentração de terra, privatização das águas, poluição dos aqüíferos, êxodo rural, perda de diversidade cultural, desmatamento, assoreamento, entre outros. "Temos sido vítimas de uma proposta insustentável de desenvolvimento que tem destruído nosso rio São Francisco e nossas vidas. Esse projeto nos mata um pouco a cada dia. Ele é responsável pelo aumento da desigualdade social e racial, degradação ambiental e o acúmulo de renda nas mãos de poucos que encontram-se reféns da lógica do capital internacional", denunciam na carta.
No documento, os povos acusam o governo de agir de forma arbitrária, autoritária e intransigente, apresentando propostas desligadas da realidade das populações locais. Afirmam que estão sendo impedidos de decidir os rumos de sua região: "Exemplo dessas arbitrariedades é a proposta da Transposição do São Francisco, que objetiva levar água para o nordeste setentrional, a fim de fortalecer o agronegócio, a carcinicultura, a siderurgia e a indústria, ou seja, garantir água para um elitizado desenvolvimento econômico em detrimento do desenvolvimento social e das necessidades dos mais pobres".
Os povos da bacia do Rio São Francisco e da Região Nordeste lembram que foram utilizados pela "indústria da seca", que inviabilizou a vida no semi-árido e perpetua a falsa lógica de grandes obras para solucionar os problemas dos nordestinos. No entanto, eles ressaltam que alternativas estão sendo desenvolvidas de forma coletiva e participativa por diversas entidades e movimentos sociais, mostrando que a solução é a convivência harmônica com o semi-árido. Mais de 140 alternativas de captação, armazenamento e uso de água estão sendo implementadas atualmente pela Articulação do Semi-Árido (ASA).
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Adital, 11/07/2007)