Uma charge na última página da "Noticias", principal revista semanal argentina, resume o espírito da preocupação do governo com a crise energética.
Um assessor diz a Cristina Kirchner: "Tenho uma notícia má e uma notícia boa. No inverno vai faltar gás e no verão vai faltar luz". A candidata questiona pela boa notícia. "A eleição é na primavera", responde o assessor.
O governo espera por temperaturas mais amenas e pela baixa da demanda que geralmente acompanha as férias escolares para poder chegar até 28 de outubro, data da eleição, sem tomar medidas de racionamento para os usuários, que são reivindicadas por analistas, pela oposição e até por um inusual editorial na primeira página do jornal "La Nación", um dos dois principais do país, anteontem.
"Não há possibilidade de evitar controle da demanda, a menos que se prefira a interrupção caótica do fornecimento de gás e eletricidade. É de esperar que prevaleça a racionalidade, que não se opere sobre a emergência com critérios demagógicos, mas que se preserve o funcionamento ordenado da economia por meio de uma economia energética generalizada", diz o jornal.
O governo, porém, insiste no discurso de que não haverá cortes nos domicílios. A medida é criticada por Francisco Medrazzi, da Câmara de Investidores no Setor Elétrico, e Cecilia Laclau, da Fundação para o Desenvolvimento da Energia Elétrica.
"O que precisamos hoje é de um plano para conscientizar as pessoas para fazer uso racional, com aumento de tarifas, se necessário. Assim, talvez, possamos evitar as restrições à indústria", afirma Laclau.
Medrazzi duvida que tais medidas sejam tomadas antes da eleição. "Estão sacrificando o país em troca de suas conveniências eleitorais", afirma.
Desde o fim de maio, o parque industrial opera com cortes de gás e tem de economizar eletricidade. As medidas afetaram pelo menos 4.000 fábricas.
(Por Rodrigo Rotzch, Folha de S. Paulo, 16/07/2007)