O congelamento de tarifas para os usuários e a falta de novas fontes de energia geraram um quadro em que a Argentina cada vez consome mais e guarda menos energia. A produção de petróleo caiu de 49 milhões de metros cúbicos em 1998 a 38 milhões de metros cúbicos em 2005, o que fez o insumo perder a condição de principal componente da matriz energética para o gás natural.
O gás, porém, que experimentou uma ascensão de produção de 19 milhões de metros cúbicos em 1989 para 52 milhões em 2004, em 2005 caiu pela primeira vez, o que deve ter se repetido no ano passado. Analistas ouvidos pela Folha coincidem que a queda tende a se acentuar nos próximos anos.
"A Argentina, que assumiu um papel de exportador nato de petróleo, gás e eletricidade, se verá obrigada a se converter em um importador crescente", aponta Jorge Lapeña, do Instituto Argentino de Energia.
A mudança já começou. Desde 2004, a Argentina vem cortando o envio de gás ao Chile e passou a importar mais da Bolívia. Hoje, a construção de um novo gasoduto ligando Argentina e Bolívia, já em fase de licitação, é vista como um fator primordial para resolver a insuficiência energética.
As exportações de petróleo caíram 45% entre 2002 e 2005, período em que a produção recuou 12%. Mesmo assim, as reservas do produto recuaram 11,4% no ano e hoje só durariam para mais nove anos.
As reservas de gás provadas também bastam para igual período -nos anos 80 e 90, havia até 30 anos de reserva dos produtos, o que impulsou a Argentina à exportação.
A escassez de petróleo e gás influi na geração de energia elétrica -45% da eletricidade do país vem de termelétricas.
Alheia ao problema, a população continua aumentando o consumo, incentivada por tarifas que não foram reajustadas desde a desvalorização do peso. Durante a onda de frio da semana passada, o consumo de gás nas residências chegou a 51 milhões de metros cúbicos, contra os 36 milhões habituais.
Para garantir esse aumento sem prejudicar a indústria e a produção de energia elétrica, o governo anunciou o programa "Energia Total", que consiste em que as petroleiras vendam para as indústrias combustíveis líquidos ao preço de gás.
"Isso é uma falácia, não há energia total, há subsídio total. As medidas do governo são como consertar o motor de um carro em movimento com band-aids. Uma hora vai explodir", diz Francisco Medrazzi, da Câmara Argentina de Investidores no Setor Elétrico.
(Por Rodrigo Rotzch, Folha de S. Paulo, 16/07/2007)