Um artigo assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no jornal africano Accra Daily Mail, um dos maiores de Gana, afirma que o etanol pode ser uma solução para acabar com a fome nos países pobres.
O artigo aparece no momento em que a possibilidade de se aumentar a produção mundial de biocombustíveis é criticada pelo risco de que as plantações para fins energéticos tomem o lugar das culturas alimentares.
No artigo, Lula cita a experiência brasileira com o etanol para dizer que o raciocínio não vale: "A indústria de etanol criou 1,5 milhão de empregos diretos e 4,5 milhões de indiretos no Brasil. Na sua primeira fase, o programa de biodiesel criou mais de 250 mil empregos, especialmente para pequenos agricultores em áreas semi-áridas".
"Também é importante destacar que nossa produção de biocombustível não ameaça a segurança alimentar, porque afeta apenas 2% de nossa terra arável. Além disso, ao gerar mais recursos que podem ser usados para comprar comida, ajuda a combater a fome", diz Lula.
O presidente quer conquistar a adesão dos países africanos para iniciativas de produção de biocombustíveis que poderiam ser desenvolvidas com tecnologia brasileira. No ano que vem, o Brasil organizará uma conferência mundial sobre o tema, observa Lula.
O presidente argumenta ainda que em países "economicamente pobres, mas ricos em sol e terras aráveis", os biocombustíveis são uma "opção real" e uma "promessa real" de desenvolvimento sustentável.
Em outra reportagem, que vai no sentido oposto ao argumento presidencial, o Financial Times afirma que o aumento da produção de milho, trigo e soja para biocombustíveis eleva o preço dos alimentos.
Em entrevista ao jornal financeiro britânico, a diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos da ONU, Josette Sheeran, disse que a transformação das colheitas tem o potencial de encarecer ainda mais os alimentos, que já estão altos devido à demanda para abastecer a China.
A organização - cuja operação consiste principalmente em redistribuir doações de alimentos produzidos em excesso - diz temer pela integridade de seus próprios recursos.
Já o diário ABC, da Espanha, reporta que a perspectiva de produzir mais biocombustível tem fomentado uma elevação no preço do petróleo e de seus derivados.
Segundo a linha do jornal, a aposta européia, americana e brasileira nos biocombustíveis tem levado os países produtores de petróleo a conter seus investimentos em exploração e produção, como uma forma de escassear a oferta do produto e elevar os preços.
"Ainda que os preços do petróleo estejam a caminho de superar os máximos históricos de agosto de 2006, a Opep (o cartel dos produtores) não parece disposta a desperdiçar uma nova oportunidade de engordar seu caixa", diz o texto. O barril da commodity já supera os U$ 76 no mercado internacional.
Entretanto, o ABC cita um relatório da Agência Internacional de Energia, segundo o qual o consumo mundial de biocombustíveis representará apenas 2% do consumo de petróleo entre 2007 e 2009.
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BBC Brasil / UOL, 16/07/2007)