São realmente comovedores os esforços que os atuais governos Estadual e Municipal fazem em prol do meio ambiente. De um lado, a Prefeitura, por meio de seu ativo secretário do Meio Ambiente, Beto Moesch, planta cinco (5) mudas de árvores no Parque Farroupilha, uma parte das oitenta (80) mudas doadas pela Vivo (outra grande benemérita do ambiente natural!), talvez porque o Município não tenha verba para comprar oitenta mudas.
De outro lado, com o apoio explícito do governo estadual, com audiência da governadora, e sem qualquer reclamação municipal, a Aracruz se prepara para poluir ainda mais as águas do Guaíba, com a quadruplicação (!) da unidade de branqueamento de celulose da Aracruz em Guaíba. Pensar que durante os governos militares houve movimentos populares e protestos que obrigaram a então Borregaard (multinacional norueguesa dos ramos químico e de celulose) a colocar filtros para amenizar a poluição do ar e das águas. O movimento acabou levando a empresa a vender a unidade.
Agora, a poluição aquática (e certamente do ar também) aumentará 300% e nós festejamos os empregos que serão criados. Por justiça, deveríamos festejar também as crianças e os adultos que adoecerão em conseqüência da poluição, cujos tratamentos o sistema público de saúde financiará (a Aracruz não cobre!).
Mas é o progresso, dirão quase todos (Ou aquilo que se tem entendido por progresso). E, afinal, o que são mais tantas doenças - que não se pode medir claramente - se criaremos mais X empregos, não é mesmo?
Enfim, parece que só se podem criar empregos poluidores. Os pequenos negócios (os que mais empregam gente, proporcionalmente ao capital) e a agricultura familiar, por exemplo, que perde espaço pros eucaliptos, estão em baixa. Brevemente comeremos celulose (a que não for exportada) ou casca de eucalipto. Com sorte, teremos torta de soja ou bagaço de cana (do tal biocombustível) no almoço dos domingos.
Por fim, há outro fator que não parece ser levado em consideração pela mídia nem pelos defensores desses grandes projetos: o consumo de energia. Num mundo em que a energia tende a se tornar cada vez mais escassa e cara, obrigando a obras caríssimas do poder público (algumas altamente poluidoras do ambiente, como a nuclear e outras desfiguradoras e desequilibradoras do ambiente natural, como as hidrelétricas ) e/ou de particulares subvencionados.
E é por isso, também, que certos projetos estrangeiros vêm para cá. Sai muito mais barato pra eles e talvez nem tenham condições de implantá-los em seus países de origem.
PS: Se alguém quiser aparecer na mídia, é só doar 80 mudas de árvores pro Beto Moesch. Sai mais barato que anúncio pago nos classificados.
(Por Flávio Schubert*,
EcoAgencia, 13/07/2007)
*Flávio Schubert é jornalista e advogado.