Um volume de gás carbônico (CO2) equivalente ao emitido pelos veículos da cidade de São Paulo pode estar sendo despejado na atmosfera diariamente pelas plataformas de produção de petróleo da Petrobrás. A estimativa é do Banco Mundial, que tem um programa para tentar reduzir as emissões de poluentes pelos queimadores de gás natural em instalações petrolíferas. A instituição calcula que a queima ou a liberação de gás (chamada de venteio) sejam responsáveis pela emissão de 350 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano em todo o mundo.
No Brasil, o volume de emissões pelas plataformas de petróleo varia entre 4 e 7 milhões de toneladas por ano, dependendo do volume de gás queimado, diz o consultor do Banco Mundial Francisco Sucre. A título de comparação, estudo da Coppe/UFRJ para a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da prefeitura de São Paulo estima que todo o transporte rodoviário na capital paulista lance na atmosfera 7,6 milhões de toneladas de CO2 por ano. É o setor que mais polui a cidade, aponta o inventário das emissões feito pela universidade.
A Petrobrás queima por dia cerca de 5,5 milhões de metros cúbicos de gás natural, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). O valor é 10,5% superior à média do ano passado, mas representa importante queda com relação aos 7,1 milhões registrados em 2001.
A empresa diz que a queima 'é inerente ao processo de produção de petróleo'. 'Ela ocorre para garantir a segurança do sistema ou por eventuais dificuldades operacionais', justificou a área de exploração e produção da companhia em e-mail enviado ao Estado.
Para especialistas, é também resultado da falta de peso que o gás tinha para a companhia quando as principais plataformas da Bacia de Campos foram instaladas. Cerca de 75% do gás produzido no Brasil vem junto ao petróleo extraído das reservas (por isso, é chamado de gás associado) e a busca pela auto-suficiência em óleo elevou também a produção do gás. Sem grandes investimentos no transporte e distribuição do combustível, a solução é queimá-lo nas plataformas ou reinjetá-lo nos poços.
O trabalho do Banco Mundial, denominado Parceria Global para a Redução da Queima de Gás (GGFR, na sigla em inglês), é buscar mercados para o gás que é hoje queimado ou liberado na atmosfera diretamente dos poços, como faz a Rússia. O Brasil é apontado como o 17º maior queimador de gás do planeta, mas não é signatário do acordo. 'Temos conversado com a Petrobrás e eles se comprometeram a realizar um workshop sobre o assunto este ano, o que indica que há preocupação com o assunto', avalia Sucre.
A Petrobrás informa que tem um programa interno de otimização do uso de gás na Bacia de Campos, que já recebeu investimentos de US$ 298 milhões. Segundo a estatal, o índice de utilização do gás produzido na região subiu de 61% para 84%. No início da década, a ANP propôs um programa chamado de Queima Zero, com o objetivo de reduzir o desperdício. Há indícios de que a empresa tenha investido menos em transporte do gás para o continente porque precisava usar o gás comprado da Bolívia.
Falta de gásHoje, o Brasil sofre com a falta de gás natural. 'Estimamos que o gás queimado atualmente represente cerca de 20% do gás importado da Bolívia. Daí, a importância estratégica em aumentar a utilização do gás que hoje vai para os queimadores', aponta o consultor do Banco Mundial.
'À medida em que o preço do gás subir, será mais interessante para a empresa investir em dutos para trazer o combustível. As plataformas de Campos ficam longe do continente e o transporte é realmente caro', avalia o consultor Marco Tavares, da Gas Energy.
Não há, na legislação brasileira, nada que obrigue os concessionários de petróleo a mandar a produção para terra firme. Embora a ANP tenha apenas a prerrogativa de aprovar os volumes de queima propostos pela companhia, o concessionário pode optar por reinjetar o restante do gás. Do ponto de vista econômico, a agência cobra royalties sobre o gás queimado, o que pode incentivar investimentos para vender o combustível.
(Por Nicola Pamplona,
Estado de S. Paulo, 15/07/2007)