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2007-07-16

O programa nuclear que o presidente Hugo Chávez quer para a Venezuela só sairá do papel em dois anos ou, talvez, em 2012. É um projeto ambicioso. A previsão é de que sejam construídas ao menos oito usinas de pequeno porte, com capacidade instalada inferior a 500 megawatts e reatores PWR, de água pressurizada, do mesmo tipo adotado pelo Brasil. Se houver necessidade, uma central inicial, talvez de 1.200 megawatts, pouco menor que a de Angra-3, poderá ser incorporada sob ampla cooperação externa, "antes de 2020", segundo documento da chancelaria venezuelana a que o Estado teve acesso.

As usinas atômicas serão instaladas nas regiões de selva e de montanha, de difícil acesso, "para levar energia elétrica a áreas pouco desenvolvidas e pobres", de acordo com afirmações do próprio Chávez, feitas em Moscou há duas semanas. Ele acredita que, "até 2030 ou pouco mais", será necessário poupar o petróleo para aplicações mais nobres, como nas indústrias farmacêutica e eletrônica.

De acordo com um especialista venezuelano integrante do projeto até outubro do ano passado e que atualmente vive fora do país, o problema está na parceria que vai sendo montada. Irã e Rússia assinaram compromissos bilaterais de apoio técnico com a Venezuela. O país não tem quase nenhuma capacitação em tecnologias da área nuclear. A instalação de maior sofisticação fica na capital, Caracas. É uma unidade de irradiação gama, usada no processo de esterilização de produtos médicos e agrícolas - principalmente as sementes modificadas artificialmente.

As reservas já prospectadas de urânio somam de 50 mil a 70 mil toneladas. Por meio do acordo de cooperação firmado com o Brasil em janeiro de 1992 - quando os presidentes eram, no Brasil, Fernando Collor e, na Venezuela, Carlos Andrés Pérez - a técnica de mineração desenvolvida por engenheiros especializados da Comissão Nacional de Energia Nuclear, a CNEN, acabou transferida.

Não é o suficiente nem para o começo. Os técnicos da agência da Venezuela para assuntos do setor atômico, criada em outubro de 2005, não dominam o procedimento para transformar o minério em yellow-cake, a primeira, e mais simples, etapa do beneficiamento químico. Menos ainda, sustenta o especialista ouvido pelo Estado, a avançada tecnologia do enriquecimento do urânio, feito gás, por ultracentrifugação. O procedimento promove a separação isotópica, retirando o U238, pobre e inadequado ao uso como combustível de reatores, e concentrando os átomos deU235, rico e adequado à geração de energia. Enriquecido a 4%, como é feito pelas organizações brasileiras, o produto é correto para abastecer centrais elétricas ou um submarino de propulsão atômica.

Armas exigem níveis de crescimento superiores aos 90% - informação relevante no caso da Venezuela, país que tem se armado nos últimos anos. Para suprir as defasagens, Chávez monta acordos bilaterais. O mais abrangente foi assinado com o governo do Irã.

Centrífugas e reatores
Não são conhecidos detalhes do tratado firmado entre os governos. Técnicos brasileiros acreditam que um dos itens, necessariamente, deve envolver fornecimento de máquinas ultracentrífugas. Segundo informações obtidas em encontros internacionais, os iranianos teriam comprado o projeto do seu equipamento junto a dissidentes paquistaneses e russos.

Esse tipo de ultracentrífugas é rústico, as máquinas são feitas de um tipo especial de alumínio, e não de aço. Rodam em velocidade mais baixa que as supersônicas, construídas no Brasil, por exemplo. Sustentadas por um pino, sofrem enorme desgaste. A produtividade é baixa. Mas cumprem a missão de enriquecer urânio natural.

A segunda dificuldade - a engenharia e arquitetura de reatores - pode estar sendo superada com ajuda da Rússia. Chávez gastou acima de US$ 4,2 bilhões no país comprando sistemas militares e armas convencionais para dar substância ao Plano de Reequipamento da Defesa, iniciado em 2005. Na visita do mês passado, às vésperas do encontro entre os presidentes Putin e Bush em Washington, técnicos da agência venezuelana cumpriram extensa agenda na estatal russa, a Rosenergoatom. A organização é a responsável pela venda de usinas nucleares e componentes ativos.
(Por Roberto Godoy, Estadão, 15/07/2007)


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