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caça
2007-07-16

O Inverno está para os policiais ambientais de Santa Catarina como o Verão está para os guarda-vidas: é a época do ano em que mais se trabalha. Nos meses frios do ano aumentam os casos de caça, crime difícil de ser combatido que coloca em risco a existência de várias espécies de animais.

Na semana passada, a Polícia Militar Ambiental prendeu quatro pessoas por caça e apreendeu 144 pombas carijó abatidas e uma viva, que servia de chamariz, em Água Doce, no Meio-Oeste. Com os presos os policiais apreenderam seis espingardas, três silenciadores, cinco suportes de mira para espingardas, mais de 600 munições, quatro apitos para caça (que atraem bichos), dois facões e até rádios comunicadores.

Na última semana de junho, a Polícia Militar Ambiental prendeu cinco homens em Rio dos Cedros, no Alto Vale. O grupo foi flagrado no Parque Nacional Serra do Itajaí. Além de armas, os detidos tinham até um cão para farejar as presas.

O primeiro-tenente Marledo Egídio Costa, comandante do 9º Pelotão da Polícia Ambiental, diz que os casos em Santa Catarina têm a ver com o prazer de matar bicho, algo parecido com o que ocorre com quem fisga um peixe grande.

- Ninguém se alimenta do que é caçado. Percebo que é feita pelo prazer. Nos municípios colonizados por imigrantes italianos e alemães há muitos casos. É uma questão cultural que é muito forte ainda - ressalta.

Uma ocorrência registrada em Timbé do Sul, no Sul do Estado, dá idéia do "prazer" citado pelo policial: um homem fez uma festa de aniversário só com aves abatidas: queria comer e falar aos convidados sobre como perseguiu e matou cada uma delas. Acabou sendo preso.

Bichos ficam na toca durante o frio
O historiador Jovani Tomanini, de Nova Trento, que fez pesquisa na área da caça e pesca e dá aulas sobre imigração italiana e alemã em Santa Catarina, acredita que a "conscientização ecológica", que pensa ser grande entre os jovens na faixa dos 20 anos, deve reduzir bem o costume.

De acordo com Jovani Tomanini, quando os primeiros imigrantes italianos chegaram a Santa Catarina, em 1875, a caçada representava sobrevivência das pessoas.

- No início, a caça apareceu como um alimento rápido, porque se precisou de tempo até se preparar o terreno para as plantações. Era uma forma de matar a fome. Com o tempo, tornou-se um hobby. Acho que os jovens na faixa dos 20 anos não vão passar esse costume aos filhos - diz.

Do ponto de vista biológico, não há nada que explique o aumento da caçada no Inverno: os bichos ficam mais tempo entocados para se proteger do frio, o que dificulta a vida dos caçadores (os animais ficam mais expostos no fim do Verão, quando ocorre boa parte dos nascimentos).

O biólogo Fabrício Ulber, que trabalha no Parque Zoobotânico, de Brusque, no Vale do Itajaí, acredita que os caçadores aparecem mais nos meses frios do ano para evitar as cobras, que aparecem nos meses quentes do ano.

- Se a gente avaliar o comportamento dos animais, o Inverno seria a pior época para caçar e o Verão, a melhor. O medo de cobra faz muita gente optar pelo Inverno.

No Planalto, há um tipo de caça que não tem a ver como hobby ou necessidade (do ponto de vista da fome) que preocupa os ambientalistas: a caça contra o leão baio ou puma.

O felino, que está na lista dos animais ameaçados de extinção, é alvo comum porque, diz-se na região, é uma ameaça aos rebanhos.

Prática pode render pena de até um ano de cadeia
O biólogo e policial ambiental Ilton Agostini Júnior explica que o desequilíbrio ambiental, a redução das florestas e de presas têm provocado o ataque desses animais contra vacas e ovelhas.

- Além da eliminação sistemática motivada pelos prejuízos econômicos que esses animais causam a produtores rurais catarinenses, a caça furtiva para troféu e a destruição do habitat pela ação humana também são fatores que, combinados, expõem a espécie à total eliminação.

Na semana passada, um filhote de leão baio foi encontrado por um fazendeiro em Lages, na Serra Catarinense e encaminhado ao Ibama.

Pela Lei Ambiental brasileira, a caçada aos animais é considerada crime.

A pena varia de seis meses a um ano de cadeia. É comum ser trocada por algum trabalho voluntário.
(Por Jeferson Bertolini, Diário Catarinense, 15/07/2007) 


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