A política para biocombustíveis adotada pelo governo federal ganhou dimensão mundial, mas a polêmica sobre o biodiesel absorver a produção de alimentos também se estabeleceu no Estado. Apesar de já existirem diversas iniciativas em solo catarinense, mesmo que incipientes e experimentais, ainda existem dúvidas sobre a viabilidade econômica da produção de biocombustível a partir de oleaginosas em Santa Catarina.
Antes de levar a Bruxelas, na Bélgica, a proposta de estabelecer uma política estratégica planetária sobre biocombustíveis, semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu de alguns presidentes de países da América Latina opiniões contrárias à substituição da produção de alimentos por biodiesel. A resistência, contudo, não ocorre apenas fora do país.
- Ao induzir o agricultor a migrar para a produção do biodiesel, com incentivos, isenções e linhas de crédito especiais, o governo federal incorre em dois erros. O primeiro é o desperdício do dinheiro público. Mas o mais grave é retardar o redesenho do modelo agrícola familiar para atividades de alta rentabilidade por área, que é o que eles precisam para permanecer no campo - explica o chefe da Epagri/Icepa (Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola), Airton Spies.
Ele afirma existir uma histeria em torno do biodiesel. Spies alerta, que, em Santa Catarina, não há viabilidade econômica para a produção de oleaginosas porque a agricultura familiar - e, no Estado, 90% das propriedades rurais são de pequenos produtores - precisa de atividades com grande rentabilidade em pequenas áreas, como fruticultura, hortaliças, leite, mel, suínos e aves.
Apesar da menor produtividade, cana-de-açúcar é mais atraente
- Biodiesel é uma commodity. Tende a dar pequena margem de lucro por área produzida, porque o preço se ajeita muito próximo ao custo de produção, o que garante lucro apenas em larga escala, ou seja, para os grandes produtores. Não há como gerar renda produzindo grãos, como oleaginosas. Para se ter uma idéia, um hectare de tomate rende R$ 20 mil brutos ao agricultor. A mesma área de girassol para biodiesel rende R$ 900 - justifica.
Na questão dos biocombustíveis, até mesmo o etanol da cana-de-açúcar renderia mais em SC, conforme Spies. Mesmo com perda de 30% em produtividade na comparação com regiões acima do norte do Paraná, onde, em função do clima, um hectare de cana rende até 9 mil litros de álcool. No Estado, a mesma área rende 7 mil litros de álcool, enquanto os grãos e sementes, que têm apenas 40% de óleo, rendem 800 litros por hectare.
(Por Simone Kafruni, Diário Catarinense, 15/07/2007)