Mesmo com ventos abundantes, tecnologia disponível e crescente demanda por eletricidade, a energia eólica ainda caminha de modo vagaroso no Brasil, com apenas 236 MW de parque instalado. Mas especialistas apontam: com mais incentivos governamentais, haverá um 'boom' de investimentos na geração de energia dos ventos nos próximos cinco anos.
Essa é a opinião de Everaldo Feitosa, vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês). Segundo o pesquisador, se o governo brasileiro acenar com um compromisso de compra de cerca de 1.000 MW/ano, o Brasil passará por uma corrida por investimentos. 'O que deverá ocorrer é uma verdadeira revolução industrial, semelhante ao que ocorreu na década de 1950 com a indústria automobilística', diz. 'E isso pode acontecer nos próximos dois a cinco anos.'
Embora no Brasil existam apenas 12 usinas eólicas em operação, o País tem potencial para geração de 143 gigawatts (GW) de energia eólica. Para se ter uma idéia da grandeza desse número, todo o parque gerador brasileiro produz 90 GW de energia, incluindo fontes diversas (hidrelétricas, termoelétricas e biomassa).
Em tempos de aquecimento global e busca frenética por energias renováveis, a energia eólica é a que mais cresce no mundo, a taxas de 40% ao ano. Além da Alemanha - que tem o maior parque eólico do mundo, com 20.622 MW - EUA, China e Espanha puxam a corrida. 'Só a China tem 20 fabricantes de turbinas, que empregam em torno de 25 mil pessoas. Na Alemanha, a indústria eólica já consome mais aço e emprega mais gente que a indústria de automóveis', diz Feitosa.
Mais incentivo
A expansão da energia eólica no Brasil requer mais incentivos por parte do governo, como a garantia de compra dessa energia e medidas que atraiam investimentos tanto em geração quanto na fabricação de equipamentos. 'Precisamos de regras de longo prazo, que dêem segurança para o investidor de que vai haver um mercado interno forte', diz Ary Vaz Pinto Junior, chefe do departamento de tecnologias especiais do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), ligado à Eletrobrás. 'A natureza nos é favorável e temos tecnologia madura. Só precisamos formar uma indústria eólica.'
O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa), criado pelo governo federal para incentivar energias limpas, tem 1.423 MW contratados só para energia eólica - quantia superior aos 1.100 MW originalmente previstos. São usinas que apresentaram projetos e foram habilitadas para fornecer ao governo. Muitas aguardam preços melhores para começar efetivamente a produzir. Atualmente, o preço do MWh da energia eólica está em R$ 220 - muito acima do teto de R$ 140 estipulado no último leilão do governo de energia alternativa, realizado no mês passado. Por causa disso, nenhum empreendimento de energia eólica fez ofertas no leilão.
Atualmente duas empresas fornecem equipamentos para geração eólica no País, a Wobben Wind Power e a Tecsis. A Wobben, subsidiária brasileira do grupo alemão Enercon, tem fábricas em Sorocaba (SP) e Pecém (CE), que empregam 750 funcionários. A empresa é a única a produzir aerogeradores completos: torres, turbinas e pás. Metade dos clientes são do exterior, mas a empresa aposta no crescimento da demanda interna por equipamentos. A Tecsis, instalada também em Sorocaba e com tecnologia 100% brasileira, fabrica pás e fornece para gigantes mundiais como a General Electric (GE).
'Só precisamos que o governo regulamente a segunda fase do Proinfa, que estipula metas para 2022. Isso dará impulso ao mercado', diz Eduardo Leonetti, gerente de vendas da Wobben. 'Tudo vai acontecer com garantia de compra do governo e um preço que torne os empreendimentos viáveis. Acredito que estamos no caminho.'
A energia eólica é considerada a mais limpa entre as fontes renováveis. Sua produção não requer uso de combustíveis além do vento, não gera resíduos e as torres podem ser instaladas mesmo em áreas de preservação, um ponto a favor para obtenção de licenças ambientais. Os ventos brasileiros, na casa dos 7 metros/segundo, são considerados ideais para os empreendimentos eólicos. 'Temos as maiores jazidas de vento do planeta. Não é um vento apenas forte, mas elegante e bem comportado. Não temos ciclones nem grandes instabilidades', diz Feitosa, da WWEA.
(Por Andrea Vialli, Estado de S. Paulo, 15/07/2007)