O governador Charlie Crist, da Flórida, preparou uma série de decretos executivos com o objetivo de desacelerar o aquecimento global e reduzir as emissões estaduais de gases causadores do efeito-estufa em mais de 25%, chegando aos níveis de 1990, em um prazo de 18 anos. O plano também prevê que, em 2050, as emissões sejam reduzidas a 20% do nível de 1990.
Uma ordem exigiria que o Estado encontrasse maneiras de reduzir as emissões de automóveis e fábricas. Outra determinaria novos padrões de economia de energia para os edifícios públicos e veículos da frota estadual e exigiria que 20% da energia elétrica do Estado viesse de fontes renováveis, "com forte foco na energia solar e eólica". Os atuais cálculos federais apontam que a Flórida obtém 2% de sua eletricidade dessas fontes, ante 2,9% em 1990.
Determinar se Crist, um republicano muito popular entre os eleitores, conseguirá impor, sem ajuda, os novos e severos controles que deseja sobre o setor de energia e outros é algo que só o tempo responderá. Pelo menos uma das grandes iniciativas no pacote de Crist - copiar as exigências adotadas na Califórnia quanto à redução nas emissões de veículos - pode não entrar em vigor, sob as atuais normas federais, porque a Flórida não é elegível para a implementação de normas dessa severidade.
Além disso, as ordens executivas de um governador podem ser canceladas pelo eventual sucessor e não oferecem base estável para políticas que se estenderão por quatro décadas.
As ações de Crist representam um esforço para colocá-lo - e ao seu Estado - ao lado do governador Arnold Schwarzenegger, da Califórnia; do governador Jon Corzine, de Nova Jersey; do prefeito Michael Bloomberg, de Nova York; e de outros líderes locais e estaduais que tomaram medidas para retardar as alterações climáticas, ocupando o espaço regulatório que o governo Bush praticamente abandonou.
O Congresso está considerando diversas medidas com relação às alterações climáticas, mas nenhuma delas conta com o apoio necessário à implementação. A Flórida, com 18 milhões de habitantes, é o quarto mais populoso dos Estados americanos. Seu relevo baixo a torna especialmente vulnerável à alta do nível dos mares e às perigosas tempestades que podem resultar do aquecimento da atmosfera e dos oceanos.
Muitos proprietários de imóveis no Estado já enfrentam dificuldades para fazer seguros. Os especialistas jurídicos do Legislativo estadual, que está em recesso até o ano que vem, já começaram a examinar as propostas de Crist.
O gabinete do governador divulgou anteprojetos de três dos decretos executivos, que serão assinados esta semana, ao final de uma conferência sobre as alterações climáticas promovida pelo Estado. Eles se baseiam nas leis ambientais estaduais e expandem seu alcance.
Mesmo assim, Crist deixou claro, em entrevista na quarta-feira, que havia aderido com entusiasmo à campanha contra o aquecimento global promovida por grandes grupos ambientalistas, como o Defesa Ambiental e o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais.
Crist afirma não esperar muita oposição das empresas estaduais de energia, que geram em usinas acionadas a carvão 28% da eletricidade consumida no Estado. O carvão produz alto volume de gases causadores do efeito estufa. As autoridades regulatórias estaduais recentemente rejeitaram dois pedidos de licença para novas usinas a carvão.
Apesar dos elogios dos ambientalistas, uma das principais organizações setoriais das empresas do Estado reagiu com menos entusiasmo. "Queremos apoiar o governador ao máximo", disse Barney Bishop, presidente da Associação de Indústrias da Flórida. "Mas quanto isso custará? Os cidadãos e empresas vão querer pagar? Isso prejudicará nossa competitividade?", questionou ele.
(Por Felicity Barringer, The New York Times / Terra, 14/07/2007)