As áreas de campo, nas quais é mais fácil limpar os terrenos, foram as mais atingidas pela ocupação humana no cerrado. A conclusão é de estudo da Embrapa Cerrados (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
A Embrapa terminou no início deste mês o detalhamento de sua pesquisa sobre a situação ambiental do bioma. Segundo o coordenador do estudo, Edson Sano, após divulgarem o “Mapeamento de Remanescentes de Cobertura Vegetal Natural do Cerrado”, em fevereiro, os pesquisadores se dedicaram a identificar e calcular o espaço ocupado por cada espécie de cobertura vegetal nas áreas naturais remanescentes e a forma como são utilizados os locais modificados pela ação humana.
O detalhamento demonstrou que 61% da área remanescente é coberta pela formação típica de savanas, uma mistura de vegetação arbórea, arbustiva e herbácea. Já a formação florestal, onde há predomínio das árvores caracterizadas por troncos retorcidos e com casca grossa, responde por 32% do total preservado. Por fim, apenas 7% do total são compostos de vegetação campestre – classificada como campo limpo, campo sujo ou campo rupestre, de acordo com a quantidade de arbustos e outras características.
Utilizando imagens colhidas por satélites em 2002, a Embrapa Cerrados já havia concluído que 61% da vegetação original do bioma está preservada. Dos 207 milhões de hectares oficialmente reconhecidos, 61 milhões são utilizados como pastagens e 17,5 milhões para o cultivo de alimentos, totalizando 78,5 milhões de hectares. De acordo com Sano, embora esses resultados não tenham sofrido alterações em termos de porcentagem, a segunda fase do trabalho levou a conclusões interessantes.
“Temos a idéia de preservar as áreas com remanescentes florestais, mas o cerrado não á apenas isso. As formações campestres também apresentam uma biodiversidade importante e necessitam de uma atenção em termos de preservação”.
Para o pesquisador, essa diversidade tem de ser levada em consideração por qualquer programa de preservação ou de utilização racional do bioma. Além disso, Sano destaca a importância de conhecer os reais níveis de degradação de cada estado: “Existe uma grande variação em termos de cobertura vegetal natural em relação à aérea preservada. Ou seja, podemos ter áreas onde esta preservação pode chegar a mais de 90% e outras em que isso pode ser de menos de 15%”.
As imagens abrangem os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí. São Paulo e Piauí são, respectivamente, a unidade que mais degradou e a que mais preservou o bioma, em relação à respectiva área original.
Quando foi divulgado, o estudo recebeu críticas por considerar pastos cobertos por vegetação nativa como áreas remanescentes. O resultado da Embrapa Cerrados divergia de pesquisa semelhante feita pela organização Conservação Internacional que, também com base em imagens de 2002, concluiu que havia apenas 46% de áreas remanescentes. Sano, no entanto, voltou a explicar que os percentuais não coincidem porque os critérios das pesquisas são diferentes.
Segundo ele, a conclusão de sua equipe não é conflitante nem mesmo com a classificação do Cerrado como um hotspot (ecossistema de alta biodiversidade sob muita pressão de degradação e cuja preservação é considerada prioritária). “É preciso considerar que nós [Embrapa] contabilizamos como área natural qualquer espaço com vegetação original preservada, independentemente dela estar sendo utilizada pelo homem. Já a classificação de hotspots considera o nível de conservação nos diferentes tipos de cobertura natural”, diz.
O pesquisador avalia que a atividade que mais degrada o cerrado é a pastagem. De acordo com a pesquisa, 60% dos 61 milhões de hectares de pastos estão em processo de degradação ou degradados. A alternância de pastio com cultivo agrícola poderia recuperá-los, comenta Sano.
(Por Alex Rodrigues, Agência Brasil, 14/07/2007)