O governo de Minas Gerais vai lançar na segunda-feira (16/07) o edital para a construção do Centro Administrativo do Estado, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, que custará cerca de R$ 900 milhões e está sendo alvo da crítica de ambientalistas. É a obra mais cara da gestão do governador Aécio Neves (PSDB) até agora.
O Centro Administrativo vai reunir as 17 secretarias de Estado, além do palácio do governo, em uma área de 804 mil m2, na saída norte de Belo Horizonte, em direção a Lagoa Santa e ao aeroporto de Confins. A obra preocupa ambientalistas, cientistas e preservacionistas.
"O local é um tesouro ambiental e científico. A ocupação desordenada preocupa muito", disse Maria Dalci Ricas, da Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente), que diz não ser contra o centro administrativo, mas cobra atenção do governo com o futuro da região, denominada cárstica.
A região é assim chamada por causa do tipo de relevo, que se desenvolve sobre rochas solúveis, como calcário. É uma região marcada por paredões, vales e por cavernas.
A riqueza do lugar está na biodiversidade, nos sítios espeleológicos, arqueológicos e paleontológicos, de grande valor científico e cultural, segundo os especialistas.
Em 1990, o Ibama criou a Área de Proteção Ambiental Carste de Lagoa Santa, motivo pelo qual o Ministério Público Federal se uniu ao Estadual para recomendar ao governo mineiro atenção com os licenciamentos dos empreendimentos.
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) também já foi alertado pelo MPF para o seu papel fiscalizador e de gestor da APA Carste.
Os preservacionistas alegam que a área precisa de constante atenção e permanente estudo, especialmente agora que o governo Aécio está incentivando a urbanização e o desenvolvimento industrial do setor norte da região metropolitana.
A região se desenvolve com obra viária de R$ 375 milhões em execução -uma via expressa de cerca de 40 km ligando o centro de Belo Horizonte até o aeroporto de Confins-, além do projeto de ampliação do complexo aeroportuário de Confins, com atração de indústrias para o entorno do aeroporto. Até o rodoanel metropolitano atingirá a região, conforme o projeto.
Em abril, Aécio assinou decreto instituindo o Plano de Governança Ambiental e Urbanística da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
"Essa é uma área de importância internacional imensurável. A preservação dessa região é um compromisso de governo", disse Patrícia Souza Lima, gerente de Meio Ambiente e Comunicação do Programa Estruturador Centro Administrativo do Estado.
Mas, para Dalce Ricas, a "desconfiança é grande" pelo fato de até agora não haver uma preocupação real do governo com o projeto de desenvolvimento sustentável da região, de forma que os licenciamentos e as intervenções não sejam pontuais.
(Por Paulo Peixoto, Folha de S. Paulo, 14/07/2007)