A diversidade biológica dos ecossistemas e dos peixes na Amazônia não encontra paralelo em nenhuma outra bacia hidrográfica do Planeta. Na região, somente de espécies characiformes, ou seja, que possuem escama, são encontradas cerca de 1.200 espécies das 1.500 encontradas no mundo.
Contudo, apenas 15 espécies locais fazem parte da alimentação do caboclo amazônico. Todavia, os peixes não são importantes apenas por serem ricos em proteínas e, por isso, inclusos na dieta alimentar. Eles possuem mecanismos evolutivos e adaptativos aos ambientes regionais pouco ainda explorados, além de também ajudarem na recuperação de áreas degradadas por meio da dispersão de sementes.
Os dados foram passadas pelo diretor do Instituto Nacional de pesquisa da Amazônia (Inpa/MCT), Adalberto Val, durante a palestra "Peixes da Amazônia: uma mina de ouro biológica", realizada nesta quarta-feira (10), da 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece em Belém do Pará até o dia 13.
Segundo Val, o pirarucu possui uma substância que ajuda na respiração, que cada 100 mg custa 500 dólares no mercado. E lançou a pergunta: pirarucu morre afogado? Ele disse que o animal é um peixe de respiração aérea, ou seja, precisa subir à superfície para buscar oxigênio, caso contrário, ele pode morrer afogado. Contudo, quando nasce sua respiração é 100% aquática. Isto quer dizer que utiliza somente as brânquias para respirar.
"A Amazônia com seus peixes é uma mina de surpresas. A cada pesquisa, uma nova descoberta. Existem peixes que conseguem sobreviver a temperaturas de até 50ºC nas margens da várzea de rios da região. A aruanã preta chega a custar 50 dólares no mercado. A Amazônia possui o cardinal, principal peixe ornamental exportado para o mercado mundial, além disso, há mais de 200 espécies de piranhas na região", afirmou.
A grande variedade estrutural das formas de vida nos mais diversos níveis: genético e populacional das espécies e dos ecossistemas necessitam de pesquisas para entender os processos ecológicos e geológicos que interagiram ao longo dos séculos e determinaram as qualidades específicas de cada espécie.
"Antes da formação dos Andes, a Amazônia se comunicava com o oceano Pacífico, o que possibilitou que animais oriundos do oceano se adaptassem a ambientes de água doce, como por exemplo, a arraia de água doce. Provavelmente, é possível que ainda sejam descobertas mais de 1.500 espécies de peixes na Amazônia. Mas, para que isto aconteça é preciso investimentos em fixação de recursos humanos e financeiros", destacou.
O cientista explicou que a grande variedade de peixes e características entre eles se deve, em parte, pelo tamanho da Amazônia, que ocupa 60% do território brasileiro e o Norte da América do Sul. Val acredita que não adianta fazer leis de proteção ambiental, que dificultam as pesquisas, sem pensar nos países vizinhos. Além disso, há a migração de pássaros da região para o Canadá, os Estados Unidos etc, os quais levam organismos em seus bicos.
A formulação das políticas públicas para se determinar o tamanho das Unidades de Conservação (UC) merecem uma atenção especial, segundo Val. Isso porque um trabalho realizado pelo pesquisador William Ernest Magnusson (Inpa), na Reserva Florestal Adolpho Ducke, localizada a 25 km de Manaus (AM), cuja extensão é de 10 mil hectares, demonstrou que os peixes encontrados em igarapés de lados opostos da reserva são diferentes entre si.
"Em locais extremamentes pequenos podem ter espécies de animais ocorrendo de forma distinta", explicou.
Para ele, a ciência não existe para impedir o desenvolvimento, mas ajudar em um desenvolvimento ambiental justo. Por isso, ela deve se basear nos critérios mais variados possíveis, que permitam a tomada de decisão com segurança.
"Cabe ao cientista oferecer essas informações no processo de decisão", finalizou.
(Envolverde/Min de Ciência e Tecnologia, 12/07/2007)