De acordo com o diretor-executivo do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Antonio Manzi, está prevista a construção de novas 75 hidrelétricas na Amazônia até o ano de 2050. A declaração do cientista foi feita com base em dados recém-divulgados pelo governo federal e que estão sendo muito discutidos na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Nesse sentido, Manzi enfatizou sua preocupação no que tange ao processo de avaliação para a construção dessas usinas. “O Inpa já está à disposição para assessorar o governo federal no que for possível. Se o governo quer desenvolver um grande programa para implantar hidrelétricas na Amazônia, temos de estudar a viabilidade”, declarou, sem esconder a preocupação. O cientista especificou também que o Instituto de Pesquisas da Amazônia vem desenvolvendo novas linhas de investigação para deter os conhecimentos necessários para a tarefa de assessoria científica, tão logo ela seja solicitada. “Como se trata de um processo de longo prazo, a idéia é trabalhar em conjunto”, explicou, justificando que o tema é novo e ainda está sendo avaliado em maior profundidade.
Sobre o mesmo tema, segundo o climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre (foto), com a nova meta de construção de hidrelétricas o governo federal vai precisar de investigações também na área de avaliação de impactos climáticos na Amazônia. Ele afirmou que sua preocupação é dar celeridade ao processo de concretização de uma política de Estado em face ao aquecimento global e tendo em vista a região amazônica em particular. “O clima já está mudando. É mais tarde do que se pensa e o aquecimento global é inequívoco”, alertou.
A abertura de licitações para a concessão de 1 milhão de hectares de florestas públicas no Brasil, principalmente na Amazônia, e a conseqüente exploração pela iniciativa privada, está sendo somada à questão das sugeridas novas hidrelétricas. E é nesse contexto que Manzi e Nobre focam suas ressalvas, no que tange à sustentabilidade da floresta em meio às mudanças climáticas, que hoje são exigência mundial. Todavia, os cientistas não sustentam posições contrárias, mas sim céticas frente a projetos de tal magnitude, caso não haja estudos de viabilidade ambiental concretizados.
Ainda em reunião ocorrida ontem, os parlamentares que integram as Comissões de Educação, Mudanças Climáticas, Ciência e Tecnologia e da Amazônia do Congresso Nacional não se aprofundaram no assunto da construção das 75 hidrelétricas na Amazônia. Eles se detiveram na formatação da “Carta de Belém” (ver Cidade, página B4), que é uma espécie de pacto entre cientistas e políticos, cujo teor é propor incentivos financeiros a pesquisadores, professores e estudantes de iniciação científica e pós-graduação (mestrado e doutorado) atuantes em universidades públicas e privadas e institutos de pesquisa.
Entretanto, como haverá a participação de pesquisadores renomados na construção do “pacto verde”, indiretamente o assunto deve voltar à tona em Brasília. De tal forma que as preocupações de Manzi e Nobre tendem a ser retomadas, segundo especificou a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), ao finalizar a reunião dos parlamentares ontem, na SBPC.
(Por Renan Albuquerque,
Amazonas Em Tempo, 11/07/2007)