(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
etanol biodiesel biocombustíveis
2007-07-13
A persistência de objetivos no longo prazo é virtude pouco cultivada no Brasil. Todavia o momento remete a três exceções. Primeira, a consolidação da cadeia produtiva da indústria aeronáutica a partir de um núcleo pioneiro de pesquisa que, em três décadas, culminou no poder competitivo da Embraer. Em parte com origem no mesmo núcleo houve o contínuo aperfeiçoamento do etanol e do biodiesel como combustíveis e que, também em três décadas, chegou à difusão dos motores multicombustíveis. Por fim, a estabilidade monetária, que afastou - espera-se, em definitivo - a ameaça da inflação. A desestabilização da economia por décadas degradou a capacidade de gerar inovações. Em 12 anos, a estabilidade permitiu ao País tornar-se competitivo em bens industriais, agrícolas e serviços de alta tecnologia.

Nos três exemplos, o mérito do governo Lula foi o de manter a continuidade dos objetivos e, no caso dos biocombustíveis, promover o seu resgate como política pública. Desde o abandono do Proálcool - criado no governo Geisel, em plena crise do petróleo -, o esforço de pesquisa e desenvolvimento se deu sem o apoio de políticas explícitas. De lá para cá muita coisa mudou. Com o apoio da Embrapa, cresceram significativamente os níveis de produtividade dos canaviais. A indústria automobilística percebeu a necessidade de dispor de alternativas e a Petrobrás superou a postura de empresa petrolífera, convencendo-se de que era uma produtora de insumos energéticos e combustíveis, independentemente da fonte primária.

Buscando superar limitações domésticas, os biocombustíveis acabaram por ser um trunfo do Brasil ante os problemas do aquecimento global e ameaças ao suprimento de petróleo. Adicionar etanol à gasolina e abastecer motores diesel com óleos de origem vegetal se tornaram objetivos da política energética dos Estados Unidos e União Européia. O Brasil entrou em cena como um importante “player” no mercado energético globalizado. A transformação do álcool (e, depois, do biodiesel) em “commodity” fará do País um exportador com forte poder de competição. Com elevadíssimos subsídios, o etanol de milho norte-americano representa 45% da produção mundial, mas responde por apenas 3,5% do combustível consumido no país. O etanol dos canaviais brasileiros é mais barato e mais limpo. A produção não depende de subsídios e responde por 42% da produção mundial, e 2/3 dos nossos automóveis podem funcionar com álcool.

No entanto, o vigor deste setor é alvo de enfrentamentos. Primeiro, o conflito entre as produções de biocombustíveis e de alimentos. O presidente Lula lembrou que “a experiência brasileira não compromete a segurança alimentar”. O que é verdade, considerando os elevados níveis de produtividade da nossa agricultura moderna. Com um mínimo de planejamento e delimitações de áreas de expansão, pode-se impedir a redução da área para produzir alimentos. O segundo problema é mais complexo e impõe riscos. Durante a cúpula empresarial com o Brasil, os europeus indicaram a disposição de impor barreiras não tarifárias ao etanol brasileiro. As preocupações são com a certificação das empresas produtoras e a ocupação de áreas da Amazônia para produzir etanol.

Com relação ao desmatamento, os usineiros afirmam que “o risco dos canaviais invadirem a Amazônia é quase o mesmo de os produtores de vinho da região da Borgonha expandirem suas plantações de uva até a Sibéria”. Mas sabemos que os riscos não se restringem à Amazônia. A tradição brasileira de ocupação desordenada do território e de predação ambiental nos tira o conforto nas negociações internacionais. O mais seguro será o Brasil adiantar-se e adotar um processo de certificação, indispensável para dar às produções de etanol e biodiesel um selo de qualidade, e obter reconhecimento internacional. Biocombustíveis certificados são produzidos de forma sustentável e cumprem todos os requisitos de proteção ambiental e social. Ou seja, são garantia contra desmatamentos, poluição dos recursos hídricos e degradação da mão-de-obra em toda a cadeia produtiva. Os biocombustíveis podem representar uma grande oportunidade de testar a eficácia do modelo de responsabilidade social e ambiental de empresas.

(Por Josef Barat*, Estado de S. Paulo, 13/07/2007)
*Josef Barat é economista, autor do livro Logística, transporte e desenvolvimento econômico: história, atualidade e perspectivas

 
 

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -