Entrevista : Dário Berger , prefeito de florianópolis
A quinta-feira foi atípica para o prefeito de Florianópolis, Dário Berger (PSDB). No primeiro dia após retornar da Europa, ficou praticamente desde o início da manhã até o final da noite respondendo perguntas sobre as suspeitas lançadas contra ele pelo relatório encaminhado à Câmara pela Justiça Federal. Berger recebeu o DC, à tarde, na sede da Secretaria do Continente, no Bairro Coloninha. Aparentando tranqüilidade e cansaço, o prefeito voltou a dizer que está com a "consciência tranqüila", que "não tem nada a esconder" e que "mais do que nunca" é candidato à reeleição. Acrescentou que não vai aceitar a revogação da polêmica lei de incentivo à hotelaria, pois "ela é boa e era uma reivindicação histórica do setor". Também disse que vai articular para evitar uma investigação específica sobre a sua atuação, já que, segundo ele, não há "fato determinante". Emocionado, afirmou que depois da maratona de entrevistas tentaria visitar o túmulo do amigo e ex-secretário de Comunicação, Ariel Bottaro Filho, falecido no fim de semana. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.
Diário Catarinense - Com relação ao relatório encaminhado à Câmara de Vereadores pela Justiça Federal. Gostaria que o senhor comentasse o diálogo do ex-vereador Juarez Silveira com o presidente da Comcap, no qual ele cita o suposto recolhimento, por um de seus irmãos, de dinheiro com uma pessoa do Norte da Ilha.
Dário Berger - Eu quero demonstrar minha indignação e revolta com relação a este assunto, que já foi amplamente divulgado. Eu já me manifestei de forma peremptória que jamais recebi benefício do Costão do Santinho; meu irmão já declarou que não recebeu benefício do Costão do Santinho. São ilações, conversas paralelas que eu já determinei ao doutor Péricles Prade a análise do conteúdo das gravações para que possa tomar as providências legais cabíveis.
DC - O ex-vereador Michel Curi não é funcionário da Câmara e nem da prefeitura. Por que motivo ele e o senhor estavam conversando sobre a lei de hotelaria na presença do empresário Fernando Marcondes de Mattos e o vereador Juarez?
Dário - Olha, isso é simples. O Michel Curi participou da minha primeira reunião com hoteleiros, em Canasvieiras, no início do mandato. O Michel Curi foi vereador há muito tempo, conhece a cidade.
DC - O Michel Curi foi o autor da lei?
Dário - Evidente que não foi o autor da lei. A essa altura (quando da gravação) o projeto de lei já estava na Câmara de Vereadores. Foi uma conversa displicente. Eu afirmei que o projeto tinha ido para a Câmara e que estava aberto para receber sugestões e alterações que se fizessem necessárias dentro de um certo equilíbrio. Certo? Então significa dizer que eu aceitaria sugestões, desde que a lei não fosse desfigurada. Essa que é a grande razão. Essa é a gravação que existe? Eu vou fazer uma lei de incentivo ao Jornalismo de Florianópolis. E aí: não vai ter nenhuma jornalista que vai se interessar pela lei?
DC - Mas o senhor Marcondes de Mattos não representa os hoteleiros, não é presidente de nenhuma entidade representativa do setor.
Dário - O Fernando Marcondes de Mattos é a maior liderança, hoje, do ramo em Santa Catarina, não diria nem de Florianópolis. Ele tem um peso muito grande no trade turístico. O Fernando Marcondes é um homem muito respeitado dentro do ramo. Me referi ao Fernando Marcondes de Mattos, não pela pessoa, mas pela representação que tem junto ao setor.
DC - Se a lei é tão importante, por que não foi regulamentada? O senhor está aguardando o quê?
Dário - Meramente porque não tenho interesse na lei, nem pressa em regulamentá-la. Até porque é uma lei de um exercício para o outro. Estou de alma limpa, coração aberto. Não tem essa hipótese de fazer lei para beneficiar A ou B. Isso não existe!
DC - O senhor diz que não há gravação comprometendo-o. Então o senhor teve acesso a tudo o que a PF tem a respeito da Operação Moeda Verde?
Dário - Eu imagino que se tivesse alguma coisa mais grave do que isso já teriam divulgado.
DC - O senhor se mostrou bastante contrariado com a divulgação do relatório encaminhado pela Justiça à Câmara. O senhor pretende tomar alguma medida?
Dário - Não me cabe aqui avaliar a situação de terceiros. O que eu posso fazer é o seguinte: o procurador Celso Três diz que o juiz não poderia mandar aquele relatório e chama de coisa estapafúrdia. Quem está dizendo isso não sou eu, é o procurador federal. Eu respeito muito a Justiça, sempre respeitei. Eu não tenho processo-crime contra mim, e olha que estou há 20 anos na política. Isso é uma demonstração de que tenho tentado cuidar bem da administração pública.
DC - Por que o senhor é contra a Comissão Processante da Câmara? Não seria mais uma oportunidade para calar seus críticos?
Dário - Eu estou à disposição da PF, do Ministério Público Federal, da Justiça Federal, da Câmara, do Ministério Público Estadual. Eu já prestei depoimentos em várias instituições dessas e não deixei de responder uma pergunta. Não tenho nada a esconder. Uma das verdades é essa da lei da hotelaria, que contempla, sim, os micro e todos, não só o Costão do Santinho. A verdade, gradativamente, vai aparecendo; a mentira não se sustenta. Esse é um assunto da municipalidade. Agora, não vejo fato determinante para uma investigação.
DC - O senhor tem sido criticado pela oposição por não ter determinado sindicâncias contra os funcionários citados pela PF, inclusive secretários municipais.
Dário - Eu tomei as decisões de exonerar os envolvidos e afastar os servidores de carreira. Maior investigação que a PF está fazendo eu não poderia fazer. Maior investigação que a CPI da Câmara vai fazer eu não poderia fazer. Minha idéia é aguardar o relatório final da PF e da própria CPI para tomar as providencias necessárias com relação ao envolvimento dos servidores. Eu não posso é fazer juízo de valor precipitado.
DC - Qual a sua avaliação do ex-líder do governo Juarez Silveira?
Dário - A minha avaliação é que ele tinha uma liderança muito forte na Câmara, no 5º mandato. Eu fiz 60% dos votos e 15% do Parlamento. Como ele exercia forte liderança na Câmara, acabou exercendo a liderança por dois períodos seguidos. Não significa que ele fale pelo prefeito. Ele fala por alguns encaminhamentos do prefeito. Em nenhum momento estava autorizado a falar no meu nome sobre qualquer negociação.
DC - O senhor tem falado com ele?
Dário - Não, não tenho.
DC - O senhor afirmou que agora, mais do que nunca, é candidato à reeleição e que está enfrentando seu 6º turno. Quando o senhor acha que esta etapa vai acabar?
Dário - O mais rápido possível, para a cidade voltar à normalidade já que não se fala em outra coisa que não a Moeda Verde. Isso é ruim para mim como prefeito, mas pior para a cidade, que entra em inércia. Por isso, defendo a investigação e que os culpados sejam punidos na forma da lei.
DC - Depois do expediente, quando chega em casa, o senhor tem dormido tranqüilo?
Dário - Tem dia que durmo melhor e tem dia que durmo pior. Quando vejo injustiça ou informação que não condiz com a verdade, fica difícil, mas a verdade sempre vai aparecer.
DC - Como o senhor avalia a atuação da imprensa neste caso?
Dário - A imprensa tem que ter um cuidado muito grande e, em determinados momentos, não teve, porque expressaram opiniões com base em informações que não correspondem com a realidade. A própria lei de incentivo ao turismo mostra isso, que houve uma tentativa sorrateira e obscura de criar um desgaste político. Se fosse divulgado como a lei realmente foi produzida, provavelmente eu não estava dando essas explicações.
(Por João Cavallazzi,
Diário Catarinense, 13/07/2007)