Quase duas décadas seguidas de utilização desregrada tornaram uma doença das lavouras de trigo resistente a um dos grupos de fungicidas mais populares do mercado. Essa é a principal conclusão de uma pesquisa desenvolvida por uma aluna do doutorado em Agronomia da Universidade de Passo Fundo (UPF). A ferrugem da folha do trigo criou meios de não sucumbir diante da aplicação de fungicidas triazóis em determinadas variedades de trigo.
Iniciado em outubro do ano passado, o estudo de Gisele Arduim, 26 anos, acompanhou o comportamento de dois cultivares com diferentes variações de fungos causadores da doença - sementes da variedade Ônix com a raça B55 e da variedade BRS194 com a raça B56. A utilização dos fungicidas triazóis, isoladamente, cria um grupo de risco, devido à possibilidade de perdas pela falha de controle. Os danos podem chegar próximo aos 60% em lavouras atacadas pelas duas raças.
- Ficou clara a perda da sensibilidade das raças (B55 e B56) de Puccinia triticina, que é o fungo agente causador da ferrugem da folha do trigo - destaca Gisele.
Entre os apontamentos do estudo - que deve ter no início do ano que vem um artigo publicado na revista da Sociedade Americana de Fitopatologia - está a orientação aos agricultores para que não utilizem os triazóis puros, mas sim em misturas com outros fungicidas, como as estrobirulinas. Isso aumenta o poder de ação sobre a doença nas lavouras. A próxima etapa do trabalho é a pesquisa da raça e do fungicida in vitro, ou seja, em um ambiente controlado. Para o pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, João Leodato Nunes Maciel, as comprovações da pesquisa são novas e devem ter grande impacto no mercado. De acordo com o especialista em Fitopatologia, as recombinações genéticas que o fungo pode realizar, originando novas formas que acabam rompendo a resistência imposta pelos fungicidas, ainda são um grande desafio para empresas que lançam cultivares.
- É importante ter mais avanços e desdobramentos neste estudo - afirma Maciel.
Segundo a doutoranda, o principal objetivo da tese, que será defendida em 2009, é gerar informações úteis:
- Quando foi proposto este desafio pelo professor Erlei Melo dos Reis (da Faculdade de Agronomia da UPF), logo pensei em como contribuir para o dia-a-dia no campo - explica Gisele, que conta também com o apoio da pesquisadora Amarílis Labes Barcellos, da empresa OR Sementes.
Saiba maisA pesquisa:
> O ponto de partida foi a análise de plantas da região norte gaúcha
> Depois de colocadas em estufas, dentro de copos plásticos, por 15 dias, sementes das cultivares sofreram três aplicações de fungicidas triazóis e estrobirulinas
> A primeira, preventiva - 24 horas antes da inoculação da planta - , a outra curativa - 72 horas depois da inoculação - e a última de erradicação - 13 dias após o aparecimento da doença.
Os cultivares de trigo atacados por esses fungos correspondem a 31,6% da área plantada com trigo no Estado em 2006
A orientação
> O ideal é que os agricultores não usem os fungicidas triazóis puros, mas sim em misturas com outros, como por exemplo, as estrobirulinas
(Por Cleber Bertoncello,
ZH, 13/07/2007)