O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), promete fazer, já nos próximos dias, uma operação surpresa nas regiões onde há o maior número de ocorrências da matança indiscriminada de botos cor-de-rosa. A informação foi dada pelo setor de fiscalização do órgão, que não informou os locais, nem os dias em que ocorrerão as varreduras para não assustar os infratores.
Hoje, um dos maiores ícones da região amazônica e relíquia da fauna aquática do Amazonas, o boto, que inspirou lendas e mitos, pode entrar em processo de extinção nos próximos anos, caso o Poder Público não intervenha na prática ilegal que acontece em algumas regiões do Estado.O alerta sobre o risco de extinção foi dado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Segundo as denúncias que chegam ao Ibama, barcos vindos da Colômbia e os próprios pescadores da região financiados por interesses estrangeiros capturam os botos para usar a carne como isca na pesca de peixes menos nobres como a pirapitinga, iguaria muito apreciada na Colômbia.
A pesquisadora Vera da Silva, que trabalha com boto cor-de-rosa há 20 anos, informou que uma população da espécie que habita entre os municípios de Fonte Boa (680 quilômetros de Manaus) e Tefé (a 525 quilômetros), está reduzindo sensivelmente nos últimos sete anos. “O número de botos hoje ainda não está reduzido, mas a população com que eu trabalho está sofrendo uma perda de 10% ao ano, desde o ano 2000. Existe uma captura direcionada à espécie a qual ela não vai suportar”, informou.
De acordo com a pesquisadora, o boto cor-de-rosa é muito sensível à caça porque a reprodução da espécie é muito lenta. O boto só começa a se reproduzir aos sete anos de idade e o acasalamento só ocorre em intervalos de três anos. Neste período, a fêmea tem apenas um filhote.
OperaçãoMesmo o animal sendo protegido por leis federal e estadual e várias portarias e decretos, a matança do boto cor-de-rosa continua ocorrendo e o Ibama ainda não tem registro de intervenção na questão. Hoje, após receber dezenas de denúncias, o órgão ambiental afirma que nos próximos dias realizará a operação nas áreas de maior ocorrência da caça proibida.
De acordo com o analista ambiental Marcelo Dutra, a operação será sigilosa. “Recebemos muitos telefonemas e cartas de pessoas que moram nas regiões onde está ocorrendo essa prática. São pessoas que vêm da Colômbia e fomentam a prática entre os pescadores locais”, explicou.
Segundo estimativas da pesquisadora Vera da Silva, o corpo de um boto serve para capturar 150 quilos de pirapitinga, e acredita-se que cerca de 80 toneladas do pescado já tenham sido exportadas recentemente, o que daria uma faixa de 500 botos mortos. Vera da Silva destaca ainda que os pescadores que trabalham com essa prática usam ainda carne de jacaré e bucho de peixe liso como isca para a pirapitinga.
(Por Ademar Vieira,
Amazonas Em Tempo, 12/07/2007)